Thursday, October 1, 2009

Manifesto: Do porquê destas coisas

Nasci em Paredes e pelo concelho vivi durante 18 anos. Na freguesia, agora Vila, de Vilela. A Universidade levou-me para Braga. O sonho, o amor e a oportunidade, para Lisboa, onde vivo actualmente. Desliguei totalmente o interesse geral que tinha pelo Vale do Sousa, ficou o particular: família-o-meu-coração-em-chamas e os amigos que ajudam a apagar o fogo. Pouco mais.

Até hoje, que é o dia de todas as mudanças. Com este blogue, pretendo uma coisa muito simples: recuperar a curiosidade pelas minhas origens, manter-me informado, informar mais além, intervir. A tarefa não é fácil e assumo-o: este trabalho de proximidade é feito à distância. Mas contem com a minha presença. Serei amigo, frontal, ultra-parcial e até desagradável, se for caso disso. Mas não vos deixarei em paz.

Na coluna lateral está uma lista de ligações de interesse público municipal. Está em construção contínua, vai sendo progressivamente actualizada e aceita sugestões. Os temas são como a vida: mais ou menos um pouco de tudo.

E, por último, antes do apito inicial, resta-me explicar o título deste blogue: Chão que me recebe é uma expressão descaradamente retirada do contexto, que demonstra em muito o que sinto por Paredes. Por mais desatinada que seja a minha constante ausência, o chão tem braços, abertos para os meus. Retirado de que contexto? Fácil: de um poema do meu-eterno-artista-paredense preferido - o poeta Daniel Faria. Vosso para o que der e vier, aqui fica o poema na íntegra:

Deve ser o último tempo

Deve ser o último tempo
A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos
O cadáver onde a aranha decide o círculo.
Deve ser o último degrau na escada de Jacob
E último sonho nele
Deve ser-lhe a última dor no quadril.
Deve ser o mendigo à minha porta
E a casa posta à venda.
Devo ser o chão que me recebe
E a árvore que me planta.
Em silêncio e devagar no escuro
Deve ser a véspera.Devo ser o sal
Voltado para trás.
Ou a pergunta na hora de partir.

Daniel Faria
de Explicação das Árvores e de Outros Animais, 1998

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